Deixei para republicar
neste domingo, (03 de fevereiro) este artigo de Dr. Magno, Ícone da comunicação
maranhense, por se tratar de algo muito especial para meu currículo de vida.
Ser tema dos
escritos de Dr. Magno Bacelar é algo histórico e que muito, mas muito mesmo me honrou.
O prazer e
contentamento que irão comigo pra posteridade, gerado por tudo isso é pela
generosidade que este ilustre coelhonetense tem sempre para comigo, pois não
merece tanta homenagem.
As palavras
não descrevem meu sentimento de gratidão, mas digo: obrigado Dr. Magno muito
obrigado.
Na íntegra o
texto de Dr. Magno Bacelar.
EZEQUIAS
MARTINS. Por Dr. Magno Bacelar.
Aos nove
anos de idade (1947), sai de Coelho Neto, pela primeira vez em busca de
conhecimentos. Pajeados por Isidoro, partimos do ITAPIREMA, às cinco horas de
uma manhã chuvosa de março tendo como destino inicial a cidade de Caxias. Da
caravana faziam parte José, Luís, Bernardo e Magno que, montados em cavalos e
burros, fariam o percurso de 97km em dois dias. Com pernoite em Serra Negra
alcançaríamos nosso destino ao final da tarde do segundo dia. Chegando à terra
de Gonçalves Dias nos hospedaríamos na pensão da Benedita, às margens da
estrada de ferro e próximo à estação do trem que nos conduziria ao ponto final
desejado que era a capital maranhense.
Seria injusto e despropósito omitir as delícias e encantos desta
viagem-aventura antes protagonizada inúmeras vezes pelos irmãos mais velhos.
(Ida em março, para o início das aulas e retorno em dezembro para as férias) O
banho nos riachos, o frito acomodado em latas, os pernoites na casa de
conhecidos e amigos do Duque, a pensão da Benedita parada obrigatória às
margens da Estrada de Ferro. A figura do homem muito forte de Isidoro, anjo da
guarda das crianças e animais a cuidar dos arreios e alimentação com lealdade e
dedicação , em que se mesclavam as figuras de pai e mãe.
Depois de longa estrada percorrida, de muitas batalhas, derrotas e vitórias, já
aos 65 anos, volto a Coelho Neto com pretensões de me fixar e residir até o
final da vida. No decorrer das obras de reforma e adaptação da casa, fiz muitas
viagens a São Luís. Numa delas dei carona a um jovem repórter que levava
consigo material para veiculação em matutinos da capital. Seria uma companhia
já que viajava sempre só e, eu próprio, dirigia o veículo. Poucas pessoas me
conheciam pessoalmente, embora filho da terra e seu representante no Congresso
por tanto tempo pouco permaneci na cidade no decorrer daqueles 56 anos. Eu
conhecia o Baiô e D. Maria mas o filho deles, embora com o faro privilegiado de
repórter, pouco sabia de mim. Perguntas e respostas se seguiram enquanto os
quilômetros passavam. Ezequias emoldurava o retrato do político amadurecido e
experiente enquanto eu avaliava o potencial do meu interlocutor. Rememorei a
minha primeira viagem e as oportunidades que a vida me oferecera e conclui que
o jovem conterrâneo merecia e haveria de ter sua oportunidade. Acreditei e
apostei minhas fichas no seu futuro.
Alguns dias depois voltamos a nos encontrar e, menos formais, continuamos as
conversas. O repórter ávido por descobrir mais, eu, reconhecendo o seu
potencial, buscando conhecimentos que me ajudassem a recuperar o tempo perdido
pela longa ausência. Num outro momento colhi algumas informações sobre o
panorama político. Se apercebendo das minhas intenções o jornalista me
delineou, com isenção, obstáculos a transpor ressaltando apoiamentos que eu não
conseguiria. Impressionado com a sensibilidade e argúcia do jornalista, sem
vícios e saturado de idealismo, percebi a importância de conquistar a sua
amizade. Combinamos uma visita ao cafundó. Debaixo de uma mangueira secular e
naquele terreiro, não encontrei apenas os pais, tios, irmãos e amigo de
Ezequias, mergulhei num ambiente familiar saudável deparei comigo mesmo no
Coelho Neto da minha infância. O bucolismo do entardecer no campo, o martelar
do ferreiro na quebrada do morro distante. Encantado com tudo aquilo, assisti
apresentações artísticas de cada parente ou amigo. Um sarau maravilhoso que me
transportou ao tempo do Duque, quando filhos tomavam a benção aos pais e aos
mais velhos, época em que respeitava-se às mulheres e um fio de bigode valia
mais que documento lavrado em cartório com testemunhas e firma
reconhecida.
Um infarto privou-me do tão sonhado convívio com os conterrâneos. Hoje, à
distância, aplaudo o empenho deste trabalhador incansável por um jornalismo
ético e responsável. Já pontificou na mídia moderna, ocupou espaço e respeito
dos confrades maranhenses. A batalha diária, pela própria sobrevivência e
sustento digno da família ainda não lhe permitiu voos mais longos, mas a
tenacidade e competência ainda lhe abrirão portas e oportunidades para
projetar, bem alto, o nome de Coelho Neto. É escrever e aguardar
testemunharemos, com orgulho, a potencialidade que Ezequias herdou daquela
valorosa gente do CAFUNDÓ.
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