sábado, maio 26, 2018

CRÔNICA DO DOMINGO: "COMO ERA DOCE O MEU GRUPO ESCOLAR"


Lázaro Albuquerque Matos
Das antigas escolas isoladas vieram, com a proclamação da Republica, os grupos escolares como centro de ensinamento público. Era em um grupo escolar aqui e outro ali que as crianças começavam os estudos. Foi no Estado de São Paulo onde os primeiros grupos escolares surgiram. 

Aos sete anos, uma criança entrava logo no Primário. E era em um grupo escolar que isso acontecia. O material escolar exigido: um ABC, uma tabuada, um lápis e uma borracha; tempo depois, uma cartilha. Nada de uma enxurrada de material escolar. Não havia o balabubaco e os penduricalhos de hoje, que nada contribuem para a boa aprendizagem. Os grupos escolares eram fonte de sabedoria. Sabedoria mesmo, sem a camuflagem pedagógica. Deixando um grupo escolar com cinco anos de estudo, o estudante tinha uma boa base de aprendizado.

O lúdico escolar dos grupos de antigamente era uma sabatina de matemática. Ludicamente, uma palmatória ficava na mão do aluno que perguntava a outro o resultado uma multiplicação de 7 x 2, de uma divisão de 14: 7, de uma adição de 7 +7 e de uma diminuição de 14 – 7. Não faltava o noves sora na sabatina. Era a prova dos noves do aluno. A professora não usava o instrumento lúdico, mas, sim, o colega sabatinador que fazia a pergunta: ele metia a palmatória na mão de quem não acertasse. Ditado de palavras era outra forma de sabatina no ensino da escrita. Tinha o mesmo método lúdico: palmatória não mão de quem não escrevesse corretamente a palavra ditada. 

Duque Bacelar tinha o seu grupo escolar: o Dr. Paulo Ramos, que funcionava em um pequeno prédio com duas salas de aula e um grande salão entre elas, onde hoje é o CRAS. Foi no Grupo Escolar Dr. Paulo Ramos, ainda no antigo prédio, que comecei a estudar, passando pelo método das sabatinas.

O prefeito Pedro Oliveira, de boa recordação administrativa para Duque Bacelar, construiu um potente prédio para o Grupo Escolar Dr. Paulo Ramos. No lugar do antigo, ainda na gestão do prefeito Pedro Oliveira, foi construído um bom e bonito teatro para abrigar a cultura de Duque Bacelar. Mas infelizmente, por falta de bom gosto pela cultura, os administradores seguintes não zelaram a função primeira do teatro: a cultural. 
A carência de professoras filhas Duque Bacelar, na época, fez com que a cidade de Caxias fosse um celeiro de normalista para o Grupo Escolar Dr. Paulo Ramos. De lá vieram muitas professoras: Narzinha, Gardi, Geny Pereira e suas irmãs Osmarina e Rosarinha. Conceição Araújo Matos (Conceição do Eurico), mesmo sendo de Duque Bacelar, foi formada em Caxias. 

O que não se entende – e é mesmo de difícil entendimento – é o porquê da atual metodologia do ensino público não suportar mais os tradicionais grupos escolares. Os termos grupo escolar, ou unidade de ensino são de escolas publicas. Essa nomenclatura só existe no ensino público. No privado, o termo usado é colégio. Eliminada a palavra grupo, vieram, então, as unidades de ensino. Que mal um grupo escolar fazia à aprendizagem moderna?
 
Nenhum mal fazia o nome de Grupo Escolar Dr. Paulo Ramos à cidade de Duque Bacelar. Pais, alunos, funcionários, muito menos os professores, se incomodavam com isso. A palavra grupo significa um colegiado formado por mais de uma pessoa, o que caracteriza uma escola. Já unidade nos remete a coisa única, o que não combina com ensino. A tradição de grupo escolar já era uma forma cultural de se dizer onde se começava os estudos. Jardim de infância não existia.

A mudança de grupo escolar para unidade de ensino nada fez para que o ensino dessas unidades fosse mais qualificado do que o dos antigos grupos. Talvez tenha até piorado, pois com a mudança, modificaram, também, muita coisa na criatividade dos professores, limitando-os a seguirem métodos estabelecidos nessas unidades. 
O Grupo Escolar Dr. Paulo Ramos de Duque Bacelar é uma boa referência de ensino para muitos bacelarenses que estão se destacando profissionalmente nesse Brasil afora. Eles lembram-se, com saudade, do Hino Nacional cantado diariamente antes das aulas. Lembram, também, da Av. Coronel Rosalino transformada num bonito azul e branco da farda dos estudantes do Paulo Ramos, às onze horas, quando juntos, todos saiam do nosso grupo escolar.

É por isso é que eu digo hoje tirando o sabor amargo da mudança: Como era doce o meu Grupo Escolar!



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