Do UOL, em São Paulo
O experiente José Hamilton Ribeiro, conhecido também como o
"repórter do século", relembrou detalhes do dia em que perdeu uma
perna ao pisar em uma mina durante a cobertura da Guerra do Vietnã para a
extinta revista "Realidade", em 1968. Ribeiro falou do ocorrido até
mesmo com bom humor e citou uma "ereção" no hospital, logo após o
acidente, em entrevista ao programa "Amaury Jr. Show", da Rede TV!,
exibido nesta terça-feira (24).
"Repórter do século", José Hamilton Ribeiro relembra dia em que perdeu perna na Guerra do Vietnãimagem: Reprodução/TV Tem/TV Globo |
"A gente [soldados americanos e um grupo de jornalistas]
participava de patrulhas em busca do inimigo (naturalmente, o inimigo era o
vietnamita comunista). Mas a sucessão de minas, de explosões foi tamanha que
desorganizou a formação. A certa altura, um soldado e eu corremos para socorrer
um outro soldado americano, que tinha sido atingido e estava gritando de dor, e
os enfermeiros [da operação] já estavam cuidando de outros casos. Nessa
caminhada, houve uma explosão muito grande, o mundo acabou à minha frente, uma
fumaça muito preta, uma escuridão muito grande. A sensação que eu tinha é que a
bomba tinha explodido no soldado que estava à frente, não em mim. Só quando se
desgastou essa fumaça, quando vi o soldado inteiro, em pé, com os olhos
esbugalhados, com a expressão de horror diante do que ele estava vendo... Olhei
para baixo e percebi que estava escorregando uma 'torneira de sangue'",
relatou Zé Hamilton, que teve a perna esquerda decepada e a perna direita
ferida na explosão.
O jornalista disse ainda que, antes dele, já haviam passado
pela mina a vanguarda e o outro soldado americano. "Um pouco de sorte, de
fatalidade ou, talvez, a diferença de peso", avaliou.
Zé Hamilton contou que havia contratado um fotógrafo japonês
para a cobertura da Guerra no Vietnã e que só ficou mais um dia no acampamento
--o exato dia do acidente-- a pedido do profissional para registrar a
"foto de capa". O que ele não esperava, no entanto, é que fosse se
tornar a notícia principal da própria revista. "Foi uma fatalidade",
amenizou.
Já socorrido e levado para o hospital, Ribeiro revelou também
que teve uma ereção. "Segundo o médico, essa sensação ocorria com vários
feridos e que isso já é considerado um fato normal na enfermaria de
guerra."
"O que leva um jornalista a trabalhar numa guerra? Um
pouco é o espírito de guerra, um pouco é ambição profissional e um pouco é
falta de juízo, mas muito, muito mesmo, é esse sentimento que jornalista tem de
estar onde os fatos estão acontecendo", encerrou.
Nascido no interior de São Paulo, José Hamilton Ribeiro, 80,
estudou na Faculdade Cásper Líbero, mas foi expulso da instituição depois de
comandar uma greve entre os estudantes. Voltou à faculdade 10 anos depois, mas
como professor. Passou pela editora Abril, TV Tupi, fundou a revista Globo
Rural e atua, há 35 anos, como um dos principais repórteres do "Globo
Rural", da TV Globo. Ganhou cinco prêmios Esso de Jornalismo ao longo dos
seus 60 anos de carreira.
Ribeiro e Amaury Jr. são amigos de longa data e se conheceram
quando trabalharam juntos em uma Redação, no interior de São Paulo. Foi ele
quem aconselhou Amaury Jr. a se mudar para a capital.
Lançamento de livro
José Hamilton Ribeiro está relançando o livro "A Música
Caipira - As 270 Maiores Modas", (editora Realejo) publicado em 2006 e,
agora, ampliado com novos capítulos e dois DVDs. A obra é vista como "a
bíblia da música sertaneja". O jornalista fez entrevistas em vídeos com
nomes de peso do gênero, como Inezita Barroso, Tinoco, entre outros.
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