quarta-feira, outubro 11, 2017

Policial Civil leva 21 anos até prender a mais antiga foragida

Investigador Adinei Brochi seguiu por duas décadas pistas de Lúcia Weisz, acusada de mandar matar o marido em 1995.


O investigador da Polícia Civil Adinei Brochi, de 50 anos, seguiu durante 21 anos uma condenada de ter mandado matar o marido até voltar a prendê-la no último dia 5, em Ponta Grossa, no Paraná. Ele não esquece o momento em que foi reconhecido pela foragida, mesmo após tanto tempo. “O semblante dela desabou e ela me disse: ‘o senhor está um pouco diferente daquele policial que me atormenta em todos os meus pesadelos’.”

A foragida Lúcia de Fátima Dutra Weisz, de 61 anos, que mandou matar o marido, o banqueiro Gavril Weisz, em março de 1995, em Americana, interior de São Paulo, é uma das pessoas que há mais tempo estava fugindo da polícia no Brasil.

Na época, quem a prendeu e entregou à Justiça foi o próprio Brochi, então um jovem investigador em início de carreira. Oito meses depois, houve um resgate de presos na Cadeia de Sumaré, no interior, e Lúcia fugiu. Ela nunca mais foi achada. Desde a fuga, Brochi passou a buscar a foragida. “Não poderia esquecer este caso, não só porque ela matou o marido e destruiu a vida do filho. É que, ao simular um assalto em sua casa, uma viatura da Guarda Municipal que seguia para o local acabou batendo em um caminhão.”

Segundo Brochi, o acidente aconteceu próximo da casa supostamente assaltada - o roubo foi simulado para encobrir o assassinato de Wiesz pela mulher. “O GM Antunes - nunca me esqueci do nome - morreu nesse acidente e deixou três filhos pequenos. Ela foi a causa indireta da destruição também dessa família. Jurei a mim mesmo fazer de tudo para prendê-la outra vez”, diz o investigador.

O policial explica por que demorou tanto para conseguir a nova prisão.
“Normalmente, depois de algum tempo, o fugitivo tenta se reaproximar da família e vai relaxando, fica menos cuidadoso. Com ela foi diferente, pois conseguiu ficar esse tempo todo quase sem deixar rastros, como um fantasma. Era como se ela não existisse.”

Embora tenha mantido a mesma identidade, Lúcia se isolou por completo, distanciando-se até do próprio filho que, na época do crime, tinha apenas 11 anos e foi criado por uma tia. O agente conta que, inicialmente, foram feitas buscas nos possíveis esconderijos, casas de parentes e amigos, e nada. Depois, com intervalos de um a três meses, em razão das outras atividades policiais, ele procurava fotos ou sinais da mulher em bancos de dados.

“Não tive satisfação em ver aquela mulher, que já poderia ter acertado as contas sendo presa. Foi perseverança, vontade de cumprir meu dever.”
Adinei Brochi, investigador da Polícia Civil
“Vi que não seria uma tarefa fácil. Ela não tinha telefone fixo, celular, computador, conta em rede social, nada que pudesse ser rastreado. A única coisa que a ligava ao passado, o que só soubemos depois, era a conta bancária em que recebia a pensão de viúva deixada pelo marido morto.”

A conta foi aberta em um período em que os serviços bancários não eram informatizados. A busca também ficou difícil porque ela mudou muito de endereço. Além do Paraná, Lúcia morou em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e em cidades do interior de São Paulo, como Araçatuba e Guararapes. “Ela alugava casas simples, diretamente com o dono, sempre de forma muito discreta. Saía de casa uma vez para sacar o dinheiro a fazer compras básicas.”

Ele conta que, há cerca de 15 anos, Lúcia ficou doente e se reaproximou do filho que, até então, não voltara a ter contato com ela. A viúva foi morar em Ponta Grossa, a cidade onde o rapaz reside, mas em outra casa. “O filho passou a vê-la, mas de forma muito cuidadosa, tomando toda a cautela para não ser seguido, tanto que nem a mulher dele sabia do que se passava. Ela tinha pouco contato com os vizinhos, era considerada pouco sociável.”
Desafio
Apesar de considerar a mulher “quase irrastreável”, Brochi nunca pensou em desistir. “Era como se fosse um desafio, estava com aquela coisa enroscada. Ela tinha uma conta para pagar com a sociedade, mas estava solta. Outros acusados foram condenados e cumpriram as penas, estão em liberdade há vários anos.”

Nos últimos seis meses, as pistas esquentaram e o paradeiro de Lúcia foi descoberto. Após tanto tempo, Bochi não quis correr riscos. “Não tivemos pressa, pedimos o apoio à polícia de Maringá e fomos monitorando seus movimentos. No dia da prisão, sabíamos que ela ia até a agência sacar a pensão. Foi só um tempo de espera até ela surgir.”

Ao bater o olho na mulher de pele clara e olhos azuis, bastante envelhecida, ele não teve dúvida de que estava frente a frente com a viúva. “Ela me conheceu muito jovem e hoje sou um policial velho, com barba grisalha. Mas acho que ela envelheceu mais do que eu.”

Segundo Brochi, ela não reagiu. “Quando disse que ela tinha uma conta a pagar com a justiça, ela falou que estava à disposição. Pareceu até aliviada, pois em todos esses anos, teve uma vida de reclusa. Uma pessoa pode fugir da polícia por um longo tempo, mas não pode se esconder para sempre. Um dia o pesadelo se torna real.”



Nenhum comentário:

Postar um comentário