Há mais de meio século, o Maranhão enfrenta tentativas mesquinhas de poderosos políticos de engaiolamento de sua vocação para o desenvolvimento com justiça social. A mais recente ocorreu na última sexta-feira, 20, quando a bancada maranhense no Senado e mais cinco dos 18 deputados federais do Estado decidiram romper acordo celebrado com a Federação dos Municípios do Maranhão (Famem) e retiraram R$ 90 milhões da emenda impositiva da bancada, que financiariam investimentos na saúde dos 217 municípios.
São recursos que, em meio à aguda crise econômica com dramáticas consequências para os municípios, bem aplicados amenizariam a dor de milhares de maranhenses. Gente simples, que aguarda por atendimento nos corredores de hospitais municipais ou em filas, que consomem meses a fio para ter acesso a simples consultas médicas.
O argumento utilizado para a quebra do compromisso com mais de 100 prefeitos remonta a práticas políticas medievais. Comprometer serviços públicos vitais, sob pretexto de não fortalecer o governador Flávio Dino. Quanta desumanidade!
Mais pavoroso é constatar que não foi esta a primeira vez que a população foi relegada a plano subalterno em discussões sobre investimentos capazes de minorar o sofrimento daqueles que mais precisam. Exemplos pululam. Citarei apenas dois. Em 2005, o governo do Estado pleiteava empréstimo de US$ 30 milhões junto ao Banco Mundial para financiar o Prodim (Programa de Desenvolvimento Integrado do Maranhão).
Foi necessária uma das maiores manifestações populares da história recente do Estado para garantir que o projeto fosse aprovado no Senado Federal. Além da mobilização dos movimentos sociais, houve intensa articulação política do ex-governador Zé Reinaldo junto a senadores de outros estados. Tal qual nos dias atuais, a resistência deu-se entre senadores, que deveriam representar o Estado.
Coube ao então presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Antônio Carlos Magalhães, num rasgo de sinceridade, nominar durante uma das sessões que tratava sobre o empréstimo o responsável por aquele despautério contra o povo do Maranhão. “Isso é coisa do Sarney”, disse o oligarca baiano. A fala pode ser vista no Youtube. Também lá está o discurso do próprio senador Sarney afirmando que os recursos não seriam liberados.
A baixa política foi usada outra vez nos dois anos e três meses de governo Jackson Lago. Naquele período, ministros e o próprio presidente da República foram ‘proibidos’ de cumprirem agenda no Maranhão.
Eis que quando a população maranhense imaginou estar livre dos métodos arcaicos de fazer política e acreditou finalmente saber para que serve um senador, foi uma vez mais surpreendida com gesto tão reprovável.
Não surpreende, pois, que aqueles que dia após dia tentam colocar os maranhenses na gaiola do atraso vociferem contra conquistas sociais alcançadas pelo Maranhão. Culpam o governo atual até por gaiolões que espalharam pelos municípios em décadas de atraso. Absurdo! Mas, passo a passo, o Maranhão avança mesmo em tempos sombrios e a despeito da insuficiência de espírito público daqueles que tentam engaiolar os sonhos de um Maranhão livre e justo. Não passarão!
Radialista, jornalista. Secretário adjunto de Comunicação Social e diretor-geral da Nova 1290 Timbira AM.
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