Para a parlamentar, com uma educação de qualidade acessível a todos é possível melhorar os indicadores brasileiros em diversas áreas.
Natural Peri Mirim, interior do Maranhão, vinda de uma família de 6 filhos, pai analfabeto e mãe dona de casa, a deputada federal Luana Costa encontrou na educação o caminho para mudar seu destino e prestar sua contribuição econômica e social ao país. Para a parlamentar, com uma educação de qualidade acessível a todos é possível melhorar os indicadores brasileiros em diversas áreas.
O que a senhora espera do Congresso constituído em 2019, depois dessas eleições, realizadas no clima tão controverso que impera no hoje país?
O nosso exercício e grande desafio do Congresso em 2019 é construir um Brasil melhor que o de hoje. A cúpula política precisa ter consciência de que não somos um país de coitadinhos. O Brasil não tem coitadinhos, tem pessoas que precisam de oportunidades. Somos um país com um potencial incrível, seja pelas nossas reservas naturais, seja pela riqueza agricultável do nosso solo, porém vivemos na pobreza. O que justifica isso? Não investimos no cidadão brasileiro, considerando todo seu potencial; investimos no coitadinho brasileiro, considerando suas incapacidades.
E o que poderia ser feito para reverter esse quadro?
Eu digo e repito: Só existe inclusão social e produtiva se o cidadão tiver condições de ter uma boa educação. Com uma boa educação, você se desenvolve e tem condições de trabalhar e colocar comida na mesa do seu filho. Assim, você consegue melhorar os indicadores do país. Eu vejo o Bolsa Família com um mal necessário, principalmente naqueles municípios pequenos. No entanto, acho que nos preocupamos demais em manter o benefício e não preparamos esse beneficiário para sair dessa condição, conquistando sua liberdade financeira e sendo inserido socialmente no mercado de trabalho. Isso só pode ser feito por meio de uma educação inclusiva.
Além da educação, qual outro tema tem a sua atenção no Legislativo?
Fui eleita pela bandeira da agricultura familiar. No Brasil, nós temos duas agriculturas bem distintas: a que tá no PIB, que é do agronegócio, e a que não está, que é a agricultura familiar. Ambas são importantes para o país, no entanto, esta última não é vista como prioridade no Orçamento. Entretanto, a agricultura familiar é quem coloca a comida na mesa de muitos brasileiros. Recentemente, participei de um encontro nos Estados Unidos (Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres Tema: “O Empoderamento Econômico das Mulheres no Mundo do Trabalho em Mudança”) que tratou sobre a importância da mulher na agricultura. Quando falamos de mulher na agricultura, estamos nos referindo à agricultura familiar. O encontro teve representantes de 192 países, ou seja, a participação da mulher como mantenedora do lar é uma preocupação mundial, pois a mulher que tem mais dificuldade (economicamente falando) em assumir esse papel é a mulher do campo. Vemos o Brasil na contramão desse debate, pois ao invés de incentivar o setor, reduz os repasses. Dada a importância do tema, eu defendo, inclusive, a criação de uma comissão para debater assuntos específicos da agricultura familiar aqui na Câmara.
Sendo de direita ou de esquerda, as mulheres no Congresso sempre se unem na luta pela defesa dos direitos das mulheres, a senhora se considera parte desse movimento?
Sim, sou vice-procuradora da Secretaria da Mulher na Câmara e trabalho pela inclusão social e política da mulher, por acesso à saúde de qualidade e à educação. Minhas emendas, por exemplo, várias delas foram colocadas para o hospital do câncer, pois sei que uma das áreas mais críticas para as mulheres é a saúde, assim como o acesso a serviços especializados. Atuo também para combater o feminicídio (assassinato em função do gênero), pois não dá pra fechar os olhos para dados assustadores como os de uma mulher morta a cada 1h ou uma mulher vítima de violência física a cada 7/8 segundos, a gente ainda tem muito pelo que brigar em um país com essas estatísticas.
As mulheres são maioria da população e maioria também do eleitorado, porém isso não se expressa na representação no Congresso, como é lidar com as pautas das mulheres nesse contexto?
Sentimos na pele aqui como é sermos representada por uma maioria masculina. A PEC 134 (que reserva 10% das cadeiras do Legislativo federal, estadual e municipal para as mulheres) estava pronta para ser votada em plenário, mas houve todo um trabalho para impedir que a matéria entrasse em pauta. Precisamos estimular a participação feminina de diversas formas, seja com reservas de vagas, seja com a abertura de novas creches, pois as mulheres só saem de casa quando têm um local seguro para deixar seus filhos. A criação de creches é uma bandeira obrigatória para quem luta pela inclusão social da mulher.
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