Ela é a Clarice que chora no verso do clássico "O Bêbado e a Equilibrista", de João Bosco e Aldir Blanc.
No trecho, os compositores citam as viúvas Maria, mulher do operário Manuel Fiel, e Clarice, esposa do jornalista Vladimir Herzog, brasileiros assassinados nos porões do DOI-CODI (órgão de inteligência e repressão do governo militar, subordinado ao Exército).
Em 25 de outubro de 1975, há 49 anos, Vladimir Herzog era torturado e morto pela ditadura militar, tornando-se um triste símbolo das atrocidades cometidas naquele período da história do Brasil.
Herzog era diretor de jornalismo da TV Cultura, tendo se apresentado voluntariamente para prestar depoimento no DOI-CODI.
No dia seguinte, foi encontrado morto em uma cela, tendo os seus algozes afirmado que ele teria retirado a própria vida.
Na época, era comum que o governo militar divulgasse que as vítimas de suas torturas e assassinatos haviam perecido por "suicídio", fuga ou atropelamento.
Conforme o laudo expedido pela polícia, Herzog enforcara-se com uma tira de pano, a "cinta do macacão que o preso usava", amarrada a uma grade a 1,63 metro de altura.
Ocorre que o macacão dos prisioneiros do DOI-CODI não tinha cinto, o qual era retirado, juntamente com os cordões dos sapatos, conforme a praxe daquele órgão.
No laudo, foram anexadas fotos que mostravam os pés do prisioneiro tocando o chão, com os joelhos fletidos, posição em que o enforcamento seria impossível.
Foi também constatada a existência de duas marcas no pescoço, típicas de estrangulamento.
Depois do AI-5, o ato inter-religioso pela morte de Herzog foi a primeira grande manifestação de protesto contra a ditadura militar, reunindo milhares de pessoas na Catedral da Sé, em SP.
Em 2012, o seu registro de óbito foi retificado, passando a constar que a "morte decorreu de lesões e maus-tratos sofridos em dependência do II Exército - SP".
A Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Brasil por negligência na investigação do assassinato do jornalista.
Para muitos, a morte de Vladimir Herzog inaugurou o início do fim da ditadura no Brasil.
Ditadura NUNCA mais.
Fonte: História em Retalhos.
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