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"Orgulho de Ser Nordestino - Simples Assim" existe há 30 anos, mas
foi oficializada como organização há cerca de 10. A sede fica na
Candangolândia, um dos redutos de nordestinos da capital.
"Abriremos para visitas agendadas. Também pretendo oferecer aulas de acordeão gratuitas para crianças de escolas públicas" Affonso Gomes, presidente da entidade |
Logo após a
entrada, é possível avistar um enorme mandacaru na área de lazer da chácara.
Uma das paredes que cercam o ambiente expõe coleções: telefones, rádios,
câmeras fotográficas, fotografias, livros de literatura de cordel e produtos
ilustrados com xilogravuras. Em outro canto, sanfonas de diferentes épocas.
Acima delas, uma placa em estilo rústico diz “Favor, mexer”. O local é,
definitivamente, um pedaço do Nordeste em Brasília.
É dessa
forma que o instituto Orgulho de Ser Nordestino — Simples Assim se apresenta. A
entidade existe há 30 anos, mas foi oficializada como organização há cerca de
10. A sede fica na Candangolândia, um dos redutos de nordestinos da capital.
O espaço
carrega a cultura de nove estados em cada detalhe, até na ambientação musical,
com canções de Luiz Gonzaga reproduzidas em um conservado toca-discos. Não por
acaso, o instituto já recebeu visitas de expoentes da música nordestina, como
Fagner, Dominguinhos e Santanna, o Cantador.
Affonso
Gomes, 50 anos, além de presidente da entidade, é sonetista, jornalista e
compositor. Ele conta que o local é um reduto para artistas. “Mesmo que não
haja espaço para hospedagem, eles preferem ficar aqui quando vêm a Brasília
para fazer shows, porque é onde eles encontram um pedaço de casa no
Centro-Oeste”, relata, com carregado sotaque maranhense.
“Na capital,
há pelo menos 40 trios de forró pé-de-serra. Lá no Nordeste, muitos dos
grupos não têm a menor ideia da dimensão que a música deles alcançou”,
completa. Segundo ele, a tradição tem se perdido nos estados nordestinos e, por
isso, a cultura busca refúgio em outros lugares.
Ambiente
acolhedor
A
instituição transborda a receptividade do Nordeste. O sanfoneiro Dida
Pachequinho e, na voz e triângulo, Francisco Nascimento, integrantes do trio
Forró Nordestino, receberam a equipe de reportagem ao som de forró pé-de-serra.
O grupo está na cidade há um mês para uma série de shows e não abriu mão de
passar a maior parte do tempo no instituto. “Um amigo cedeu um lugar na Asa
Norte, mas deixamos somente nossas roupas lá, porque preferimos ficar aqui”,
afirma Dida.
O prestígio
em outras terras impressiona os artistas. “Alguns com 50 anos de carreira ou
mais não têm noção do que acontece pelos trios do Sudeste, Centro-Oeste e Sul.
O próprio Flávio José fez shows fora de lá e chegou a chorar ao ver o público
cantando”, observa Francisco.
A
organização depende de doações. Como o local se encontra em reforma, ainda não
foi aberto ao público. As visitas, por enquanto, ocorrem somente por meio de
convite pessoal.
Ainda assim,
os planos de Affonso para apoiar e promover a valorização da diversidade
nordestina seguem. “A previsão é de que tudo esteja organizado por volta de
fevereiro do ano que vem. Depois disso, abriremos o local ao público, para
visitas agendadas. Também pretendo oferecer aqui aulas de acordeão gratuitas
para crianças de escolas públicas do DF”, revela.
Lembrança
Aqui,
nesta praça inefável,
Onde
out’rora eu sentia de perto
A pulsar
do teu coração,
Estou
sozinho a te esperar
E a
reviver a nossa bela paixão,
De onde
estou olho para o céu
E vejo
uma estrela caindo
Com sua
luz cintilante
Na calada
da noite,
E lá se
foi mais um astro
em
direção ao Mar,
Naquele
instante fiz um pedido,
E nele
desejei ter você,
Surgiu
uma brisa afável,
Foi como
se tu tivesse chegado,
Pois
senti teu suave perfume em mim,
Mas tudo
que é belo acaba depressa,
A estrela
se foi, a brisa se foi
E o teu
perfume também,
Ficando
somente a tristeza e a lembrança,
A tua
doce lembrança
Que nunca
vai se separar de mim.
Affonso
Gomes, São Luís (MA),
fevereiro de
1983.
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