Principal evento na agenda cultural do Nordeste, o Carnaval é a união de música, dança e expressões artísticas. Em um ano que não haverá festas nas ruas, devido à pandemia, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), instituição vinculada ao Ministério da Educação (MEC), marcará a festividade com a realização do Carnaval de Todos os Tons. Montada pela Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), a programação será realizada de 8 a 17 deste mês. Reunirá exposições, lançamento de concurso de frevo, exibição de filmes e oficina de fantasia de papel.
Dois grandes
pernambucanos são os homenageados: o cronista Antônio Maria e o Maestro Duda. O
Carnaval de Todos os Tons celebra o centenário de Maria, cuja data é 17 de
março próximo. O músico terá sua dedicação ao frevo reconhecida no Concurso
Nordestino de Frevo - Homenagem ao Maestro Duda. A programação virtual
será exibida pelo YouTube Fundaj Oficial e replicada nas demais redes sociais
da Instituição. A presencial será restrita a uma exposição no Shopping
Center Recife e chamadas nas redes.
“Uma das
festas mais aguardadas ao longo de todo o ano, o Carnaval cumpre um papel
fundamental para a saúde mental, a sociabilidade, a economia e a manutenção de
manifestações. É um orgulho para esta Casa, comprometida com a memória e a
cultura, manter de forma segura tradições que são tão fortes no Nordeste e no
País”, reflete o presidente da Fundaj, Antônio Campos. Ele destaca que a
Fundação preparou uma programação que possibilitará ao público viver o período
carnavalesco, ainda que não seja nos moldes tradicionais. “Neste ano, as
avenidas e ladeiras, os confetes e as serpentinas vão ao encontro do folião em
um Carnaval de e para todos os tons”, celebra.
O principal
tributo será dedicado ao cronista, comentarista esportivo e compositor
pernambucano Antônio Maria (1921—1964), cujo centenário será comemorado em
março deste ano. Dentre as contribuições para a maior festa popular do País, o
diretor da Dimeca, Mario Helio, lembra que o homenageado é co-autor da canção
Manhã de Carnaval, em parceria com Luiz Bonfá.
“O
centenário dele está próximo e ninguém está falando disto. Antônio Maria é um
nome importante. Se fossemos fazer uma lista de 100 músicas de Carnaval, pelo
menos quatro composições dele estariam”, justifica Mario.
É de autoria
do cronista o Frevo nº 1, nº 2 e nº 3, dedicados ao Recife em tom nostálgico.
Antônio Maria faleceu aos 43 anos, de um problema cardíaco. “Morreu do coração,
do que aliás estava repleta a sua obra. Ele traz uma obra muito lírica, muito
brasileira”, diz Mario Helio.
Já o Maestro
Duda terá os seus 71 anos de dedicação ao frevo celebrados na premiação em sua
homenagem. O Concurso Nordestino de Frevo - Homenagem ao Maestro Duda terá seis
categorias e 12 contemplados: Melhor Frevo de Rua, Melhor Frevo de Bloco e
Melhor Frevo Canção, Melhor Intérprete, Melhor Arranjo e Hino da Turma da
Jaqueira Segurando o Talo. Os valores das premiações são de R$ 4 mil a R$ 10
mil. O edital será disponibilizado na página da Fundação, no endereço www.fundaj.gov.br, com
prazo de inscrição até 12 de junho e resultado no Dia Nacional do Frevo, em 14
de setembro.
“Participei
de quase todos os festivais e concursos. Por isso, estou muito feliz em ser
escolhido para ser homenageado. Durante mais de dez anos dirigi um dos
principais deles, o Frevança”, comemora o Maestro Duda. Além de regente, José
Ursicino da Silva, o Maestro Duda, é compositor, instrumentista e arranjador. O
homenageado nasceu em Goiana, município da Zona da Mata Norte, tida como terra
de músicos.
Autor do
frevo “Furação”, compôs também diversos outros frevos, choros, sambas e declara
a importância da iniciativa que comenta composições. “Tem muita gente querendo
compor e não sabe por onde começar ou onde apresentar. Existem muitos frevos
sendo produzidos, mas falta espaço para divulgação”, reclama Duda.
Para
participar, o candidato deverá residir em um dos nove estados do Nordeste. “É
um concurso regional. Portanto a abrangência é toda a região. A Bahia também
tem frevos importantes de Caetano Veloso, de Moraes Moreira. Neste momento será
sobre o frevo, o que não nos impede de abordarmos outro gênero no futura”,
reflete Mario Helio.
As
produções das faixas deverão ser feitas pelos proponentes e enviadas em arquivo
de áudio, no formato mp3. “Nossa diretoria é de memória, onde a história é
parte do patrimônio. Queremos chamar a atenção para a Fonoteca da Fundação, no
ano em que estamos concluindo a digitalização do nosso acervo”, explica.
Exposições
Com base nos
acervos do Centro de Documentação de Estudos da História Brasileira (Cehibra) e
do Museu do Homem do Nordeste (Muhne), duas exposições também serão lançadas.
Os desenhos de fantasias criadas pelo artista plástico Manoel Bandeira
(1900—1964), no fim da década de 1930, poderão ser conferidos dos dias 8 a 17
de fevereiro, no Piso 1 do Shopping Center Recife. A exposição ‘Carnaval:
Nassau, frevo, cana e caju’ visita o elemento essencial à folia de Momo no ano
em que ela não ganhará ruas e ladeiras. “Ainda que não tenhamos a festa, o
Carnaval existe e pode ser vivenciado de outro modo, a partir do acervo
histórico”, reflete a coordenadora do Cehibra, Betty Lacerda.
Com
curadoria de Rita de Cássia e Rodrigo Cantarelli, os croquis exibidos na mostra
foram publicados no Anuário do Carnaval Pernambucano, que compõe a coleção do
Cehibra, e aludem a figuras da história e elementos da fauna e flora associados
à indústria e agroindústria locais. “Os desenhos de Manoel foram confeccionados
sob encomenda de malharias e fábricas da indústria têxtil. As senhoras da elite
iam até essas lojas e escolhiam a fantasia a ser confeccionada. Com elas,
fizeram parte até dos concursos de fantasias”, contextualiza Betty. Além dos
painéis, com desenhos e textos curatoriais, o público poderá conferir
partituras, como a do Hino do Vassourinhas.
Explorando
as possibilidades das redes, o Museu do Homem do Nordeste lança a exposição La
Ursa, também no dia 8, com curadoria de Antônio Montenegro. Diversos registros
do acervo do Cehibra em que personagem e a brincadeira têm destaque integram a
montagem audiovisual que será vinculada às redes sociais da Casa. Um
vídeo-performance com trilha incidental também foi produzido e conta com o
arte-educador Cleyton de Melo Nóbrega sob a forma de brincante. “A ideia é
focar no personagem que, além de interessante, é característico do Nordeste. É
diferente do Bumba[-meu-boi] que aparece em outras regiões”, justifica o
curador.
Também nas
redes sociais o público infantil confere, no mesmo dia, a oficina preparada
pela Coordenação de Ações Educativas do Muhne. Em diálogo com a exposição de
desenhos de fantasias do artista plástico Manoel Bandeira, a meninada vai
aprender a confeccionar fantasias de papel. O tutorial online contará com a
facilitação do arte-educador Emerson Pontes.
Cinema
Para
completar a programação, a Cinemateca Pernambucana preparou uma Mostra de
Carnaval. Todos os filmes que abordam a temática estarão disponíveis em uma
sessão especial, na home do site www.cinematecapernambucana.com.br.
Com curadoria da coordenadora do Cinema da Fundação e da Cinemateca
Pernambucana, Ana Farache, o público irá conferir títulos documentais como Olha
o Frevo (1970), no qual o diretor Rucker Vieira passeia pela história e
tradição do ritmo no seu estado de origem. Quatro décadas depois, a
documentarista Dea Ferraz reúne a nata em Sete Corações (2014), do Maestro Duda
ao Maestro José Menezes (em memória).
Nenhum comentário:
Postar um comentário