quinta-feira, janeiro 24, 2019

O INTERVENTOR E O TILÓ


Por Dr. Magno Bacelar. 

Funcionário do Tesouro Nacional desde 1920 foi no Governo Vargas (1936) que o maranhense, natural da cidade de Caxias, Paulo Ramos foi eleito indiretamente pelos Deputados Estaduais para governar interinamente o Estado do Maranhão em substituição a Aquiles Lisboa cassado pela Assembleia. Com o golpe, que resultou no Estado Novo, foi nomeado Interventor Federal no Estado de 1937 a 1945 quando passou o cargo ao Dr. Clodomir Cardoso.
Retratado como homem sério, rigoroso e feio. Por ser casado com uma Senhora loura e muito bonita, a maledicência dos opositores apelidou o casal de “A Bela e a Fera”. Os feitos e benefícios não foram notórios e suficiente para projetá-lo nacionalmente. Criou, em 1938, o BEM-Banco do Estado do Maranhão, vendido ao Bradesco por Roseana Sarney. - Fundou o DER Departamento de Estrada de Rodagem, extinto por Roseana Sarney. O maior destaque de sua gestão foi o destaque dado à educação. Homem probo, jamais foi acusado de desonestidade ou favorecimento a parentes ou amigos. Como preposto cumpriu a tarefa de guardião dos interesses políticos do ditador Vargas. No conjunto foi medíocre, poderia ter sido mais útil à terra natal.
O interior, de difícil acesso, continuou abandonado sem a mínima garantia de direitos individuais como soer acontecer nos regimes autoritários. Polícia, chibata e cobrança de impostos compunham o triunvirato da época. Coagido e isolado, o homem do campo não tinha direitos, tinha medo...
Já em São Luís, com maior visibilidade e graças a escolha de Pedro Neiva de Santana para o cargo de Prefeito, foram realizadas obras de infraestrutura, com abertura de avenidas, construção de escolas, hospitais e logradouros públicos. O maior índice de popularidade de Paulo Ramos foi alcançado na Capital. Popularidade do Interventor se projetou nacionalmente.
Para se certificar de que as coisas estavam em ordem em todo o estado eram comuns incursões aos municípios e uma delas terminou indo à Coelho Neto, onde a fama de inflexível e severo já o antecedera. Hospedou-se com o interventor municipal, por ele nomeado, acolhido com muito carinho e até uma certa submissão, fez questão de mandar programar uma reunião solene na Prefeitura para uma preleção e audiência dos cidadãos. Com desfile da banda municipal e retreta com execução dos hinos. Como em toda cidade pequena apareceu um sujeito espaçoso (saliente) fazendo perguntas, denúncias vazias e outros incômodos. Intolerante o Dr. Paulo Ramos mandou recolhe-lo ao xadrez a ser libertado somente após sua saída rumo a Brejo.
Encerradas as comemorações e homenagens, com agradecimentos exagerados, o interventor se recolheu com a recomendação de que ao levantar deveria receber uma ata com todos os acontecimentos minunciosamente relatados. Sem coragem de argumentar o pobre prefeito-interventor não pregou olho rezando para que a tal ata fosse esquecida. Às 6 horas da manhã, pontualidade era uma das características do Homem, chegou a triste hora da verdade. Onde está a ata que determinei que fosse lavrada? – Não tem ata não Senhor e, humilhado quase chorando concluiu – “O Senhor mandou prender o único TILÓ que nós tem”.
O inconveniente, com ares de importância, era o único datilógrafo da cidade


Nenhum comentário:

Postar um comentário