A situação
dos Direitos Humanos no Sudão do Sul, país no leste da África, é "uma das
mais espantosas" do mundo, declarou nesta sexta-feira (11) a Organização
das Nações Unidas (ONU), que afirma em um relatório que o governo permite que
combatentes "estuprem mulheres como forma de salário", segundo a
France Presse.
"Trata-se
de uma das situações mais espantosas no mundo para os direitos humanos, com um
uso maciço dos estupros como instrumento do terror e arma de guerra",
afirmou o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al
Hussein, ao apresentar um relatório das Nações Unidas sobre a situação no país.
Em seu relatório, a ONU afirma que, "segundo fontes confiáveis, as
autoridades permitem que grupos aliados estuprem as mulheres como forma de
pagamento", seguindo o princípio do "façam o que puderem e tomem o
que quiserem".
"A
escala e o tipo de violências sexuais - que geralmente são cometidas pelas
forças governamentais do Exército Popular de Libertação do Sudão e por suas
milícias afiliadas - são descritos com detalhes terríveis, assim como a atitude
- quase casual, mas calculada - daqueles que massacraram civis e destruíram
bens e meios de subsistência", afirma Zeid Ra'ad al Hussein.
Crimes de guerra
O relatório da ONU contém relatos sobre pessoas, incluindo crianças e
deficientes físicos, que foram assassinadas, queimadas vivas, asfixiadas em
contêineres, executadas, penduradas ou cortadas em pedaços.
"Diante
da amplitude, da profundidade e da gravidade das acusações, da repetição e das
similaridades observadas no modo de operação, o informe conclui que existem
motivos razoáveis para crer que estas violações podem ser consideradas crimes e
guerra e/ou crimes contra a humanidade", disse o Alto Comissário da ONU.
Segundo as
Nações Unidas, "a grande maioria das vítimas civis não parecem ser o
resultado dos combates, mas de ataques deliberados contra civis".
Para a ONU,
"os atores estatais têm a maior responsabilidade pela violência cometida
em 2015, diante do enfraquecimento das forças da oposição".
O Sudão do
Sul completou quatro anos de independência em relação ao Sudão em julho deste
ano. O país de quase 12 milhões de habitantes, que é o mais novo do mundo, é
também uma das nações com pior situação humanitária.
Há mais de um ano e meio, o país sofre com a guerra civil que opõe o presidente
Salva Kiir e seu ex-vice-presidente, Riek Machar, acusado de preparar um golpe
de Estado. De acordo com a agência para refugiados da ONU, o Acnur, o conflito
provocou mais de 2,2 milhões de deslocados.
Deste total,
mais de 730 mil pessoas que viviam no Sudão do Sul fugiram
para países vizinhos e 1,5 milhão tiveram que abandonar as suas casas e
procurar abrigo em outras regiões do país. Além disso, o Sudão do Sul acolhe
mais de 250 mil pessoas que fugiram do vizinho Sudão.
O número de
civis refugiados nas seis bases da Missão da ONU no país (Minuss) já
ultrapassou os 150 mil, sendo que alguns estão ali desde o início dos combates,
em dezembro de 2013. Mais de 10 mil pessoas chegaram apenas na semana passada,
segundo os números apresentados pela Minuss.
Guerra
entre facções
A guerra no Sudão do Sul começou em dezembro de 2013 com combates entre duas
facções do exército, dividido pela rivalidade entre o presidente Kiir e seu
ex-vice. Diversas milícias se uniram a cada lado, com confrontos marcados por
massacres de caráter étnico.
Os combates
se intensificaram em abril, quando o exército sul-sudanês, SPLA, iniciou uma
ofensiva contra as forças rebeldes no departamento de Mayom, que era uma
importante região petroleira antes da destruição provocada pela guerra.
A violência
no país atingiu tais níveis que, em algumas ocasiões, a ONU denunciou
“violações generalizadas dos direitos humanos". Atrocidades como o assassinato
de crianças, castrações, estupros e degolas são alguns exemplos do que ocorre
na região.
Em maio, a
Unicef denunciou o assassinato de 26 de crianças - algumas de apenas 7 anos - e
o sequestro de dezenas de outras em ataques realizados por grupos armados,
formados homens e meninos armados, vestidos de militares ou civis, no estado de
Unidade.
Independência
O Sudão do Sul conquistou sua independência em relação ao Sudão em julho de
2011, depois que um referendo realizado em janeiro daquele ano aprovou a
separação com 98,83% dos votos a favor. O referendo estava previsto em um
acordo de paz de 2005 que encerrou décadas de guerra civil.
As diferenças étnicas e religiosas do que então era apenas um país foram o
principal ponto de conflito entre os dois lados. A população do sul (hoje o
Sudão do Sul), formada por diversos grupos étnicos de maioria cristã ou
animista, se sentia discriminada pelo governo centralizado em Cartum (no
Sudão), de maioria muçulmana e que tentava impor a lei islâmica.
O governo de
Cartum foi o primeiro a reconhecer a nova nação, num sinal de secessão
tranquila para aquele que foi, até então, o maior país da África - que agora é
a Argélia.
A situação
econômica no país piorou muito desde 2012, quando o governo decidiu fechar a
produção de petróleo, até então o petróleo correspondia a 98% da receita
pública do país, após discordâncias bilaterais com o Sudão, que tinha toda a
infraestrutura para a sua comercialização, como oleodutos, refinarias e portos
do Mar Vermelho.