Silvana Olinda Mendes dedicou 34 anos da sua vida servindo a uma mesma família. Criada em um orfanato, foi “recebida” ainda adolescente em uma casa na cidade de São Paulo, onde passou a trabalhar nos serviços domésticos. Era a sua melhor chance de ter um teto e comida no prato. Em troca dessa condição, ela conta que nunca recebeu salário nem férias, não tinha descanso semanal tampouco carteira assinada.
Em meados do ano passado, a situação de Silvana foi caracterizada como trabalho em condição análoga a de escravo pelo Grupo Móvel de fiscalização ligado ao Ministério do Trabalho e Previdência. O caso se somou a outros 27 resgates de domésticas registrados em 2021 em diversas partes do país — um volume recorde de libertações desde o primeiro flagrante, em 2017. Neste ano, já foram contabilizados ao menos quatro casos.
O aumento de casos é apontado como efeito da repercussão da história de Madalena Gordiano, libertada no fim de 2020 após 38 anos vivendo em condições análogas à escravidão. O caso foi retratado pelo programa Fantástico, da TV Globo, e impulsionou uma série de denúncias de situações semelhantes.
As vítimas quase sempre são mulheres que chegaram bem novas, às vezes ainda crianças, na casa do empregador, e são resgatadas com idade avançada. Em geral, são pessoas vulneráveis, com pouco ou nenhum estudo, sem laços sociais com parentes ou amigos. Na maior parte das vezes, nem têm consciência da exploração sofrida e desenvolvem um sentimento de afeto por seus algozes. As denúncias partem de terceiros, como vizinhos ou prestadores de serviços.
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