Em um mundo cada vez mais castigado pelas mudanças climáticas, com o avanço da ciência e da pesquisa tornando as novas energias (as chamadas energias verdes ou energias limpas, que não emitem gases de efeito estufa, nem na sua obtenção e nem em seu uso), tão ou mais baratas quanto as fósseis, (extremamente poluidoras) é inexorável a imposição da nova matriz energética.
Governos e empresas estão investindo bilhões de dólares para baixar os custos da energia do futuro: o hidrogênio verde obtido da eletrólise da água, usando energia renovável, eólica ou solar, que não emite carbono. Essas pesquisas têm o objetivo de baixar os custos de obtenção de energias renováveis, assim como o custo dos eletrólise. O resultado é que os custos estão caindo rapidamente e já se prevê que caiam dos atuais 5 dólares para 1 dólar – preço de um quilo de hidrogênio verde, o que será decisivo para que se torne, definitivamente, a energia universal.
Mas ninguém que ser enganado. Assim, é preciso que os produtos, industriais ou primários, sejam o que dizem que são. Haverá a imposição de uma certificação atestando que o produto não usou em nenhum momento energia que emita carbono. Essas entidades serão as certificadoras e elas atestarão se o produto que está sendo negociado é um produto limpo ou sujo. Ou seja, se eles terão taxação extra, que os inviabilizará, ou até devolvidos para os países de origem. Se forem produzidos em áreas desmatadas não serão aceitos. No Maranhão, já existe uma dessas, mas isso fica para outro artigo. Isso obrigará a todos evitarem produzir, seja lá o que for, emitindo carbono.
Já quem seguir jogando limpo, no longo prazo, as regiões que adotaram energias renováveis, em larga escala, podem se tornar centros de industrialização verde, atraindo indústrias intensivas em energia. É urgente para o Maranhão tornar-se grande produtor de energia verde, já que a energia está muito cara. Isso passa a ser um grande diferencial, principalmente com a oferta, pelas distribuidoras, de energia muito cara decorrente de tomadas de decisão discutíveis na crise hídrica.
Desta forma, não adianta sermos contra o que vem por aí. Principalmente porque, para nós, abre-se uma grande oportunidade de crescimento econômico, tanto como produtores de energia verde, como de fertilizantes nitrogenados verdes e vendedores de crédito de carbono no futuro mercado global de crédito de carbono.
Só vantagens que se somam à nossa excepcional logística de transporte com portos excelentes e uma malha ferroviária que se liga à Ferrovia Norte-Sul e nos conecta, com transporte de retorno, com tarifas diferenciadas, ao Brasil Central, ao mesmo tempo em que possuímos condições imbatíveis para a exportação de longo curso, utilizando os maiores navios do mundo, os que oferecem as menores tarifas de fretes e produtividade.
O professor Fabrício Brito, atual Pró Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão da Universidade CEUMA, tem formação sólida sobre sistemas ambientais, carbono, mudanças climáticas e, a meu convite, participou na quarta-feira passada da reunião do Grupo de Trabalho da EMAP, que está estudando exatamente esses assuntos. Ele fez uma palestra muito interessante, seguida de debates com os professores, doutores e mestres, que compõem o grupo do qual foi convidado a fazer parte.
Esse movimento mundial veio para ficar e ele mostrou que teremos novos modelos de consumo e comércio global e que, se quisermos ser competitivos, teremos que nos adequar às regras do Mercado. Segundo ele, critérios vinculados à sustentabilidade são cada vez mais usados para diferenciar e dar competividade aos produtos.
Ele mostrou também que o carbono vai ser monetizado. O Brasil e o Maranhão, somente em recuperação de áreas degradadas, obtém 60 toneladas de carbono/hectares/ano, que está custando no mercado internacional 83,24 euros por tonelada de crédito carbono. O Cerrado produz 2,5 toneladas/hectares a 83,24 euros ou CR 1.337,15/hectares, considerando 1 euro = 6,35 reais. A Floresta Amazônica com 60 toneladas/hectares ou CR 31.714,44/ha e os vendedores se credenciam pelo CNPJ.
Assim, o crédito de carbono, pode ser uma grande alternativa econômica à nossa disposição, trazendo grandes benefícios sociais às famílias locais, que poderiam atuar como guardiões da floresta e auferir uma renda extra.
Felipe D ávila, cientista político e autor do livro “10 Mandamentos – Do Brasil que somos para o País que queremos”, em artigo no Estadão de quarta-feira passada com o título Potência Ambiental, começa afirmando que o Brasil poderá ser a primeira grande economia do mundo a gerar riqueza na era do carbono neutro. Se o petróleo foi a matriz de riqueza das nações no século XX, a fixação de carbono será uma das principais fontes de riqueza do século XXI. Nesse sentido, o Brasil é a superpotência econômica do mundo. Temos capacidade de fixar metade do carbono do planeta, plantando árvores em terras degradadas ou sem uso. Nenhuma nação tem um ativo tão gigantesco e valioso.
A passagem para a economia de carbono neutro vai comandar a reinserção do Brasil na economia mundial. O principal programa de renda e emprego vai ser o de plantio de áreas florestais permanentes, em pequenas propriedades rurais. Vai gerar 3 milhões de empregos, sem gasto público. Mas, para isso, é preciso acabar com o desmatamento, recuperar pastagens degradadas e, com as emissões da pecuária, plantar áreas de florestas. Na economia de carbono neutro, o meio ambiente é o mercado. “Criar mercados novos pelo melhor uso da natureza é o norte que temos para tirar o Brasil do ostracismo ambiental e fazer o país voltar a crescer de maneira sustentável”, conclui o autor. Isso tudo sem impactar com o agronegócio e nem com a atividade normal das pessoas.
Na verdade, todas as empresas poderão lucrar com carbono neutro. Para isso, vamos precisar de mão de obra especializada, consultores preparados, pois as possibilidades de ganhar com carbono neutro são muito amplas. O Governo do Maranhão vai precisar criar suas normas para ajudar toda a economia a requerer a certificação e, assim, poder emitir créditos de carbono no mercado mundial.
Nós vamos discutir muito esse assunto no nosso grupo e submeter ao consenso antes de encaminhar ao governo nossa colaboração. Sabendo bem o que queremos, fica mais fácil ganhar o apoio da classe política e poder ter a possibilidade de influenciar a incipiente legislação nacional.
O Ceará fez isso agora em relação ao decreto que regulamentou e deu segurança jurídica à produção de energia eólica no mar. Ou offshore. O deputado Danilo Fortes, do PSDB cearense, criou uma frente Parlamentar para defender a energia renovável e, com isso, os interesses cearenses viraram decreto do Governo Federal.
Tudo que se leu referente ao país se adapta perfeitamente ao Maranhão, uma síntese em seu território da diversificação ambiental brasileira, inclusive na nossa Pré-Amazônia. Poucos têm as possibilidades que temos.
Artigo escrito pelo ex governador José Reinaldo Tavares.
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