segunda-feira, maio 23, 2022

Aumento da fome no Brasil é inadimissível

 


O representante da Agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) no Brasil, o mexicano Rafael Zavala, vê com apreensão a situação da fome e da insegurança alimentar no país e diz que isso é “inadmissível” acontecer em um país que funciona como um motor de alimentação para o mundo. Preocupado com a nossa angustiante realidade, ele defende mais apoio às políticas sociais e diz que o país sempre soube enfrentar a fome, como já demonstrou em outros momentos. 

Ele não acredita que o atual Governo Federal consiga enfrentar com êxito a gravidade do que vem acontecendo e apela para que “o próximo governo, não importa a filiação política, precisa dar mais atenção às políticas sociais para a segurança alimentar”. Ele reforça que os preços dos alimentos continuarão em patamar elevado. Zavala também acredita que seja necessário mais rigor no controle da questão do desmatamento no país, provocada principalmente por atividades ilegais como o garimpo, cada vez avançando mais, derrubando florestas e poluindo os rios da Amazônia com mercúrio, o que mata os peixes e adoece os índios. Uma prática condenada pelo mundo inteiro, preocupado com o aumento da temperatura atmosférica que está causando enormes problemas climáticos.

Sobre os efeitos da guerra na Ucrânia, ele afirma que, diferentemente de outros países da América Latina, o problema do Brasil é mais a dependência dos fertilizantes do que o preço dos alimentos. Ucrânia, Belarus e Rússia produzem mais de 50% dos fertilizantes do mundo. A soma da alta dependência dos fertilizantes, com os altos preços do petróleo, significa um cenário de uma estabilidade de altos preços. A solução possível é reagir e gerar caminhos. E não adianta se alarmar com isso. Tem que reagir. 

A inovação é a solução no caso dos preços dos alimentos e dos fertilizantes. Inovação no caso dos solos e da melhor utilização da água, afirma ele. Temos que racionalizar melhor a Agricultura e um dos pontos em que podemos avançar é com uma radiografia dos solos: a Embrapa pode aprofundar as análises do solo para poder diagnosticar qual a melhor medida do fertilizante. Estudos – como os da Aliança Mundial pelo Solo – mostram que estamos utilizando mais fertilizantes do que precisamos. Há uma avaliação clara de que é possível usar uma quantidade menor, que signifique menos gastos. Além disso, no  caso do Brasil, é muito importante a grande oportunidade de reduzir e melhorar a utilização de água. Existe a oportunidade de modernizar várias regiões com sistemas que possam utilizar menos fertilizantes e menos água. 

Ela acha que o mundo vai ser mais racional já que distância importa, sim e não, e fará mais sentido, depois da guerra se o Brasil, por exemplo, ficar dependente de coisas que acontecem há 12.000 km de distância. Será lançada, acredita ele, uma versão da globalização dirigida a blocos regionais. Brasil, Argentina e Chile, os países mais agrícolas, têm de fazer novo esforço para diminuir a dependência de outros continentes. Vamos nos dirigir a uma regionalização, uma adequação globalizada regional. 

Outra questão importante, continua, é a falta de segurança jurídica. Ainda há diferença grande de terras, que são de comunidades indígenas, e outras para as quais faltam regularização fundiária. E é preciso fortalecer também as estratégias de “guardiões da floresta” para prevenir incêndios. 

Portanto, meus amigos, tudo parece que só vai ser enfrentado mesmo no próximo governo. Antes tarde do que nunca, já que a situação é cada vez mais insustentável. 

Artigo escrito pelo ex-governador  do Maranhão Zé Reinaldo,  secretário de estado de Programas Estratégicos. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário