Parece que Putin não avaliou bem o quadro nacional, internacional e as consequências de invadir um país democrático, sem ser provocado para isso, apenas porque queria anexá-lo à Rússia. O presidente da Ucrânia, que foi um comediante bem sucedido, deve ter lhe parecido fraco que, provavelmente, fugiria aos primeiros tiros. E Putin fez de tudo, provocando a Otan para que esta lhe desse um pretexto para a pretendida invasão. Como não deu, invadiu assim mesmo. Achava que grande número de países europeus, sendo dependentes do gás russo, não iriam se arriscar a perder a energia russa, no meio do inverno e, assim, não reagiriam para valer.
Parece que deu tudo errado. A União Europeia entendeu que ceder a Putin seria perigoso para todos, com seus sonhos expansionistas. Volodymyr Zelensky, Presidente da Ucrânia é, na verdade, uma pessoa corajosa e muito articulada, inteligente, fala russo, e não reagiu atacando a Rússia. Apenas se defende da agressão, que não poupa ninguém. Zelensky começou a falar para os russos, ucranianos que moram na Rússia, mostrando o que os meios de comunicação, ameaçados de prisão, não podem fazer. Com isso, os russos começam a sair da Rússia e protestar contra a guerra – assim como os magnatas, que estão sendo perseguidos, perdendo seus bens na Europa. Putin resolveu atacá-los, chamando-os de fracos e ameaçando a todos. A situação está tomando caminhos difíceis para quem quer a guerra, pois o bloqueio econômica à Rússia é o maior já visto, devastando a sua economia.
Pois bem, neste contexto, chega a notícia de que a Comissão Europeia organiza uma ação conjunta para uma energia mais acessível, segura e sustentável. E quer, já em 2030, se tornar independente da energia do gás russo, perante a invasão russa da Ucrânia. O plano contém uma série de medidas preventivas para dar resposta ao aumento dos preços da energia, acelerar uso de gás renovável e substituir o gás não utilizado na produção de eletricidade. O objetivo é reduzir a procura do gás russo em dois terços, até o final do ano.
A presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, declarou: “temos de nos tornar independentes do petróleo, do carvão e do gás russo. Não podemos nos tornar dependentes de um fornecedor que nos ameace explicitamente. Temos de agir já para atenuar o impacto do aumento dos preços da energia, diversificar o nosso aprovisionamento de gás para o próximo inverno e acelerar a transição para energias limpas. Usar as energias renováveis mais eficientes e dominar nosso sistema energético mais rápido. Irei debater ideias da Comissão com os líderes europeus reunidos em Versalhes, no final de semana, e depois trabalhar para implementar rapidamente com a minha equipe.”
O vice-presidente executivo pelo Pacto Ecológico Europeu, Frans Timmermans, afirmou: “chegou o momento de enfrentarmos nossas vulnerabilidades e nos tornarmos mais rápidos e independentes nas nossas opções energéticas. Tratemos de adotar as energias renováveis a toda a velocidade. São uma fonte barata, limpa e infinita de energia; em vez de financiarem a indústria dos combustíveis fósseis. A urgência de Putin na Ucrânia demonstra a urgência de acelerar a nossa transição para energias limpas”.
A execução do pacote das propostas da Comissão permitiria, por si só, reduzir o consumo anual de gás fóssil em 30% – 100 milhões de metros cúbicos – até 2030. As medidas do plano chamado REPower permitirão eliminar, progressivamente, pelo menos 155 milhões de metros cúbicos de gás fóssil, o que equivale ao volume importado da Rússia, em 2021. Cerca de dois terços dessa redução podem ser alcançados no prazo de um ano, pondo termo à dependência excessiva da EU em relação a um único fornecedor. A nova realidade geopolítica do mercado exige uma aceleração drástica da transição para energias limpas e o reforço da independência energética da Europa relativamente a fornecedores pouco confiáveis e a combustíveis fósseis voláteis. A UE importa 90% do gás que consome e a Rússia é responsável por 45% dessas importações. A Rússia representa também cerca de 25% das importações de petróleo e de 45% das importações de carvão.
Pois bem, Putin jamais pensou que isso pudesse acontecer, achava-se insubstituível em um bilionário mercado de energia. E como ninguém mais confia nele e na Rússia, perderá bilhões de dólares que iriam enriquecer este país de PIB equivalente ao do Brasil. E isso é só uma parte do problema econômico que a Rússia enfrentará. Mesmo que a guerra acabe com a vitória da Rússia, os embargos vão perdurar por um tempo difícil de dizer. A confiança perdida vai marcar a Rússia.
Riquezas maranhenses – Portanto, a substituição da energia fóssil tornou-se urgente e estratégica. Os grupos de estudo, que se dedicam há mais de ano estudando como tirarmos vantagens e nos inserirmos, economicamente, nessa nova era da energia limpa, serão fundamentais para nós, no Maranhão, que temos água, sol e ventos fortes e pertencemos à região do planeta em que se pode produzir a energia renovável mais barata do mundo. Ou seja, por consequência, o hidrogênio verde de mais baixo custo, que poderá se tornar rapidamente competitivo e nos abrirá um mercado gigantesco: o da energia limpa e dos fertilizantes nitrogenados, mercados que serão sempre crescentes, energia e alimento.
Só aqui, na Baía de São Marcos, temos um mercado enorme para o hidrogênio verde, com milhares de navios que visitam nossos portos, por exemplo. A ideia é o estabelecimento de corredores verdes para rotas por onde trafegam um grande número de navios, dotando-os de infraestrutura de atendimento e abastecimento com combustíveis verdes. São Luís, com seu complexo portuário crescente, certamente fará parte de corredores importantes mundialmente.
As pessoas não imaginam as imensas possibilidades de negócios que surgirão para nós, um estado diferenciado com uma infraestrutura inigualável no Brasil, e, além disso, com imensas possibilidades de ganhar muito dinheiro com um mercado gigante dos créditos de carbono.
Pouco se sabia sobre os manguezais em relação ao crédito de carbono. Estudos em andamento realizados mostram que o solo dos manguezais tem o maior estoque de carbono do Brasil, maior do que o da Floresta Amazônica por hectare. O biólogo Pablo Riul, professor da Universidade da Paraíba, é um dos quatro cientistas que assinam um artigo, divulgado em janeiro, na publicação internacional Frontiers in Forests and Global Change.
De acordo com o inventário, os manguezais brasileiros detém 8,5% dos estoques globais de carbono desses ecossistemas. Eles armazenam até 4,3 vezes mais carbono nos primeiros 100 centímetros de solo, incluindo a Amazônia. O Estado do Maranhão é onde estão as maiores áreas de manguezais do Brasil, com 298 mil hectares, seguido por Pará, com 186 mil hectares e Amapá, com 141 mil hectares. Juntos, Maranhão e Pará, possuem 60% das áreas de mangue no Brasil.
Faltam legislações para proteger os manguezais. É preciso urgência nisso.
Existe uma fortuna em nossos manguezais e nem se sabia. O Maranhão é um estado fabuloso, rico e que tem uma oportunidade imensa agora com a nova energia e o combate às mudanças climáticas. Mas precisa lutar por isso. Nada acontece por acaso.
Artigo escrito pelo ex-governador do Maranhão José Reinaldo Tavares.
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