Cristiane Bacelar fez uma homenagem mais do que especial aos Professores em Grande estilo.
Uma homenagem toda especial aos professores nas palavras delicadas de quem sabia manuseá-las.
Este lindo texto, é do seu eterno esposo Magno Bacelar.
MADRINHA DE LOURDES
Assim eu tratava a minha primeira professora, esposa de advogado provisionado. Todos os dias ela se deslocava do centro da cidade para o ITAPIREMA onde nos ministrava as primeiras letras e conhecimentos. Mãe de vários filhos, detinha compreensão e tolerância para o mister que escolhera como profissão. Não era normalista, humilde por natureza, sobravam-lhe pertinácia e dom de transmitir conhecimentos. Na precariedade da vida interiorana do país e do Maranhão, não contávamos com muitas mestras formadas em pedagogia. Tempos obscuros nas comunicações, muitas vezes as notícias chegavam pelos correios que de Caxias a Coelho Neto eram transportados no lombo de burros e jumentos. Igualmente a saúde, também precária, estava a cargo de farmacêuticos e dentistas práticos além de que os partos eram assistidos por parteiras e benzedeiras.
Bem-ditos aqueles que, “remediados”, podiam propiciar aos descendentes luzes do conhecimento de pessoas como a minha doce professora. Eram verdadeiramente as primeiras, e muitas vezes únicas, letras abrindo as portas do conhecimento. A população brasileira era, em mais de 90%, de analfabetos. Os pais educavam e transmitiam conhecimentos práticos, tradições que passavam de pai para filho. Estavam presentes, em cada momento, ensinando a respeitar pai e mãe, aos mais velhos, idosos e autoridades. Da maior importância era o sentimento de amar ao próximo e a Deus sobre todas as coisas. Era muito comum crianças se aproximarem dos mais velhos, mesmo desconhecidos, para pedir-lhes a benção.
Nas escolas e adaptações em casa de família alunos idolatravam os professores, faziam agrados, traziam-lhes mimos, ávidos bebiam suas palavras e pediam que os abençoasse. Seria ofensa imperdoável desrespeitar, responder ou insultar o professor, para todos nós um ídolo, um exemplo a seguir, não raro, alunos imitavam e, até se apaixonavam de forma platônica pelos mestres.
Hoje, o ensino foi democratizado, existem professores e meios para que todos tenham acesso ao aprendizado. Transporte, merenda, fardamento, assistência médica e dentária. Em contra partida os pais esqueceram-se da obrigação divina de educar os filhos, no âmbito da família, abandonando-os à própria sorte. O amor e a atenção que faltam em casa, a influência malévola dos “amigos” virtuais e dos traficantes se encarregaram de precipitar o desastre. Transformaram alunos em inimigos dos professores. Deixados como objetos, na porta das escolas fazem-na campo de batalha e instrumento da vindita.
Inversão total e absoluta de valores, professores sem apoio da sociedade e dos governantes continuam mal remunerados sem chances para se reciclarem ou preparar aulas que atraiam e sensibilizem os jovens que, por seu turno, deixam de ser alunos para se transformarem em verdugos daqueles que, em última análise, são os únicos que podem capacitá-los para um futuro próspero e digno.
Na pessoa e imagem inesquecíveis da minha humilde e competente professora de Lourdes, a quem atribuo meu amor pelas letras. Na pureza de seu indestrutível e inquebrantável ideal quero homenagear a todos os professores do Brasil, em todos os níveis, por reconhecer que em cada um deles está latente o ideal de uma nobre profissão sobre a qual se alicerça o futuro de uma grande nação.