A instalação da ZPE de Parnaíba foi seguida por um encontro de especialistas no setor, tanto nacionais quanto do exterior, que proferiram palestras e debates com os participantes convidados pelo Governo do Piauí. E algumas dessas palestras foram de alto nível e bastante esclarecedoras.
Entre as muitas palestras, a proferida pelo presidente da Investe Piauí (uma agência de atração de investimentos estratégicos do Piauí), Vitor Hugo Saraiva de Almeida, nos despertou especial atenção. E eu e Fernando Renner, após a palestra, fizemos o convite para que viesse a São Luís proferir uma palestra na Federação das Indústrias do Estado do Maranhão (FIEMA) , o que aconteceu na quarta-feira da semana passada. E foi surpreendente e importante o resultado pelo entendimento inicial a que chegamos e concordamos em trilhar.
É claro que é só um início, teremos que detalhar tudo isso em acordos entre os dois estados, mas praticamente tudo pode se iniciar desde já. Ele já havia deixado claro o desejo de cooperação em sua palestra e eu, quando me foi concedida a palavra, sugeri alguns temas para essa cooperação.
O primeiro deles é que a Zona de Processamento de Exportação (ZPE) de Parnaíba está desprovida de um pilar essencial para seu funcionamento: Um porto. O porto da ZPE é o de Luís Correa, um porto lançado há 50 anos até hoje não iniciado. Eu coloquei à disposição o Porto do Itaqui, muito bem administrado por Ted Lago e sua Diretoria, que poderia ser o porto da ZPE de Parnaíba, enquanto não tivessem o seu próprio porto, já que portos levam tempo para serem construídos. As cargas chegariam ao Itaqui pela Ferrovia São Luís-Teresina, trecho da ferrovia Transnordestina, o que garantiria uma boa solução logística para a ZPE de Parnaíba. É claro que isso terá que ser precedido por ampla negociação envolvendo a ZPE, a EMAP e a Ferrovia. Mas, sem dúvidas é uma ótima solução e início de um amplo entendimento entre os governos dos dois estados. A sugestão foi recebida muito bem por Vitor e deverá ser posta em prática.
Em seguida, descrevi o que poderá ser uma grande oportunidade para a região, que é a escolha de São Luís para integrar a Rota da Seda, a milenar rota por onde os mercadores levavam suas mercadorias para o consumo dos povos da antiguidade. O estudo da expansão adicionou São Luís para ser uma grande central de distribuição de mercadorias chinesas para o mercado na ampla região que vai até o Centro Oeste. Fomos escolhidos pelo que eu sempre disse aqui, temos uma excelente logística de transportes, dotada de portos profundos, ferrovias de excelente qualidade, em vias de expansão com as autorizações já concedidas pelo Governo Federal, e, para coroar tudo, a nossa ligação com a Ferrovia Norte-Sul, espinha dorsal do nosso maior eixo de integração regional, o caminho certo para levar as mercadorias aos consumidores. E que nenhum estado do Norte e Nordeste tem.
Tudo bem, mas como o Piauí, e outros estados, poderiam usufruir disso? Acontece que essas mercadorias virão em grandes navios certamente porta-contêineres e aí uma grande oportunidade de negócios é oferecida a todos – que é a encher esses contêineres com mercadorias produzidas aqui, nas ZPEs, aproveitando um frete de retorno, para levar as nossas mercadorias para mercados africanos e asiáticos, para países em grande expansão econômica que, com o desenvolvimento, aumentarão exponencialmente o seu consumo de energia, alimentos, cimento, aço e tudo que for importante para o desenvolvimento dessas áreas. E, no caso, poderemos mandar alimentos já processados tais como aço, alumínio, hidrogênio verde, fertilizantes nitrogenados e muito mais. Assim como abrir um grande mercado comprador para o nosso crédito de carbono. Para isso, tornam-se fundamentais as ZPEs de São Luís e de Parnaíba. Ele se interessou logo e o convidei para participar, na primeira semana de agosto, da visita que nos fará o Dr. Paul Lee, especialista chinês que comandou o grupo de estudo da expansão da Rota da Seda. Convidei-o para vir para cá nessa época e participar dessas conversas para tirar qualquer dúvida que se tenha. Essa parceria seria também muito importante para os dois estados e poderíamos até agregar outros. Uma parceria que poderia mudar a realidade dos nossos estados.
Solução pela educação – O terceiro exemplo das conversas iniciadas foi sobre educação voltada para a indústria. Eu já contei em artigo, aqui no Jornal Pequeno, sobre a visita que fizemos à Bahia, ao Rio Grande do Norte e ao Ceará, em uma comitiva liderada pela FIEMA montada pelas federações de indústrias dos estados visitados. A visita foi um sucesso pelo que vimos, discutimos e combinamos. Na Bahia, tivemos um único evento que nos tomou o dia inteiro: visitar a melhor escola de apoio a indústrias, uma escola técnica de um nível que não encontramos no Brasil e que é responsável por atrair um grande número de indústrias para a Bahia. Trata-se da SENAICIMATEC, uma escola, hoje autossustentável, que tem sob contrato o desenvolvimento de produtos para 820 empresas industriais. Além de formação de nível superior, a escola forma especialistas em uma infinidade de assuntos, é tão impressionante que não é possível descrever toda a sua importância.
Quando chegamos em Salvador, já anoitecendo, saímos do avião e fomos diretos para um restaurante anexo ao hotel onde íamos ficar, onde já nos esperavam o presidente da Federação de Indústrias da Bahia e o diretor executivo da SENAICIMATEC, objetivo maior da nossa visita ao estado. Eu logo pedi o apoio para fazermos uma similar no Maranhão e eles se colocaram inteiramente ao nosso dispor, com o apoio total do presidente da FIEMA, Edilson Baldez.
Pois bem, logo que assumi a nova secretaria de Desenvolvimento Econômico e Projetos Estratégicos, Fernando Renner, vice-presidente da FIEMA, entrou em contato com a direção da escola baiana e eles estarão chegando, nesta semana a São Luís, para nos ajudar a trazer para cá uma escola como a da Bahia. Sabemos que a economia da Bahia é muito maior do que a nossa, até mesmo pela SENAISINOPC, mas o nosso potencial de desenvolvimento é gigantesco. Prova disso é que a Agencia Espacial Brasileira assinou um contrato com uma subsidiaria da Amazon para ajudar a atrair empresas de alta tecnologia para o Centro Espacial de Alcântara, local apropriado para um parque tecnológico do mais alto nível e de inovação. Além da ZPE, do hidrogênio verde, da amônia verde, do crédito de carbono e da nossa inclusão na Rota da Seda. Isso nos daria amplas condições de exportar produtos prontos ou semiacabados, ao invés de apenas grãos e minérios e alumínio, por exemplo.
Pois a nossa terceira proposta foi construirmos e usufruirmos juntos dessa escola, pois se compararmos a nossa economia e a do Piauí, individualmente com a da Bahia, cabe um abismo no meio. Mas isso já é muito diferente se juntarmos, economicamente, Maranhão e Piauí versus Bahia. Isso, sem dúvidas, garantiria a autossustentação dessa escola, o que talvez não acontecesse se estivéssemos sozinhos, neste momento.
E falamos que os pontos citados não encerravam nossas possibilidades, como a expertise que detém em Parcerias Público Privadas, que possibilitou grandes avanços ao vizinho estado como ligar por fibra ótica todos os municípios do estado, todos agora dotados de internet de alta qualidade fazendo nascer centenas de pequenas empresas municipais de provedores de internet. Só um exemplo do muito que uma parceria como essa pode nos beneficiar. E são grandes produtores de energia renovável, a chave para o hidrogênio verde.
Acredito que a união faz a força e vamos apostar nisso, pois todos só têm a ganhar.
Estamos no início, que se desenha bastante promissor e até inesperado. Mas isso vai depender do entendimento dos nossos governadores, e tudo indica, tem tudo para dar certo.
Artigo escrito por Zé Reinaldo Tavares ex-governador do Maranhão ,secretário de Estado de Programas Estratégicos.