Bom dia, Dona Cecília. Meus parabéns pelos seus 100 anos, amanhã, sábado, 14 de julho de 2018, com um feliz aniversário. Como presente, vou lhe dar um poema de sua xará Cecília Meireles, que morreu aos 63 anos:
RETRATO
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou perdida a minha face?
(Cecília Meireles).
A carioca Cecília Meireles nasceu em sete de novembro de 1901 e morreu no dia nove de novembro de 1964, dois dias depois do seu aniversário de 63 anos. Antes ela escreveu este autorretrato. A face de sua xará cearense Cecília Freire pode também estar perdida em algum espelho. Mas ela ver-se assim aos 100. Ganhou da xará poetisa na idade!
Creia-se ou não, todo mundo sente que o tempo passa. O corpo, por inteiro, mostra isso, por dentro e por fora. Não precisamos olhar para o espelho e nem para o relógio.
Creia-se ou não, somos produto do tempo. Se se mata o tempo, morre-se antes do tempo. Mas pode-se dizer: “Mato o tempo, enquanto ele não me mata”. Assim faz Dona Cecília: ela mata o tempo vivendo hoje, para continuar vivendo amanhã.
Sem o tempo vivido, Dona Cecília, a senhora seria uma “sem-anos”; com o tempo vivido, Dona Cecília, a senhora é uma com cem anos. Não culpe o espelho pelo retrato de sua face, nem agradeça o relógio pelo tempo vivido. O tempo é seu. Dele, a senhora colheu seus 100 anos, com muito amor no coração e felicidade na vida.
A cidade de Tamboril, no Ceará, viu nascer a garotinha Cecília Freire, em 14 de julho de 1918. A cidade de Duque Bacelar, no Maranhão, está vendo, na data 14 de julho de 2018, a garotona Cecília Freire completando seus cem anos.
De Tamboril a Duque Bacelar, um século para Dona Cecília.
(Lázaro).
De Lázaro Albuquerque.