"Acima de tudo, um homem feliz, que realizou tudo que desejou".
Assim se definiu Luís da Câmara Cascudo (Natal, 1898 - 1986), pouco antes de sua morte.
E logo após essa fala, no ano de 86, morreRAM Câmara Cascudo.
Isso mesmo! Morreram!
Morreram o advogado, o jornalista, o antropólogo, o historiador, o professor.
Morreram o tradutor, musicólogo, cronista, o poeta, o escritor, o poliglota, o folclorista.
O folclorista!
Simplesmente o papa do folclore brasileiro.
Autor do monumental 'Dicionário do Folclore Brasileiro' (1954), em que Cascudo elenca MILHARES de verbetes referentes às nossas superstições, crendices, danças, lendas.
Câmara Cascudo era um completo apaixonado pelo nosso povo, nosso cotidiano, nossas histórias e estórias.
Era também muito conhecido por ser um baita de um anfitrião.
Dono de uma agradável, confortável e frequentada residência, e de um ótimo e riquíssimo papo, Cascudo recebia generosamente a todos, sem distinção de credo ou partido.
Era ponto de encontro das figuras mais imteressantes do país que passavam por Natal à época.
E era, claro, um erudito.
Cascudo era um profundo conhecedor da mais fina Filosofia e Literatura clássicas.
No entanto, nada disso o desviou do seu principal objeto de estudo: a sabedoria popular.
Por meio de uma obra vastíssima, abordada sob diversas óticas e composta por mais de 200 livros e 1850 artigos (dentre outros), Câmara Cascudo tentou, sobretudo, elaborar uma teoria para a cultura popular, para a literatura oral.
O anti-intelectual (nos hábitos), que recebeu em casa o presidente Figueiredo de pijama e mascando fumo, nunca saiu de Natal.
Era ali que era feliz.
Na cidade que amava, com a esposa, filhos, netos e bisnetos que amava.
Esse sensível e emocionado homem - ora em família, ora escrevendo, ora lendo (Cascudo possuía um acervo com mais de 20 mil livros) -, foi quem mais se dedicou e compreendeu a alma do nosso povo.
Foi quem mais estudou o Brasil e o brasileiro.
Foi quem mais nos promoveu e valorizou.
Sua figura era frequente nas igrejas, mercados, procissões. Pois lá, ele se encontrava e se encantava com a sua maior paixão: o brasileiro comum.
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Artigo do Professor e Escritor Rafael Lédo Rocha.