Na China,
centenas de milhões de pessoas estão se preparando para dar uma pausa no
trabalho e visitar suas famílias a partir do Ano Novo, que é celebrado em 5 de
fevereiro no país. Mas algumas funcionárias terão oito dias extras além do
feriado normal de sete dias, se forem solteiras e tiverem mais de 30 anos. A
razão? Para que elas tenham tempo de encontrar o amor.
Duas
empresas que administram um parque temático em Hangzhou, no leste do país,
estão concedendo uma “licença de namoro” às funcionárias que não ocupam cargos
na linha de frente de suas operações, segundo o jornal South China Morning
Post.
Uma escola
da mesma cidade também passou a conceder às professoras solteiras o que chama
de “licença amorosa”.
Chinesas
solteiras são estigmatizadas
Na
China, mulheres solteiras com mais de 20 anos são frequentemente
associadas ao termo pejorativo “sheng nu”, ou “mulheres que sobram”. Esta é uma
situação cada vez mais comum à medida que mais pessoas decidem se concentrar em
suas carreiras ou optam por permanecer solteiras.
Mas as
pressões sobre as mulheres para se casarem continuam, e o governo está
preocupado com o envelhecimento da população e com a redução da força de
trabalho.
Leta Hong
Fincher é autora de Leftover Women (“mulheres que sobraram”, em inglês) e
Betraying Big Brother: The Feminist Awakening in China (“Traindo o Grande
Irmão: O despertar feminista na China”, em tradução livre).
Ela acredita
que a iniciativa é “uma campanha orquestrada pelo governo chinês para
estigmatizar as mulheres de 20 e poucos anos que permanecem solteiras”. “É tudo
parte de um esforço para pressionar mulheres instruídas, em especial, a se
casar e ter bebês.”
Taxa de
natalidade está em queda na China
As taxas de
natalidade continuaram a cair na China, apesar do fim de política de filho
único em 2015. A taxa de casamentos também vem caindo anualmente desde 2013. Em
2018, houve pouco mais de 15 milhões de nascidos vivos, 2 milhões a menos em
comparação com o ano anterior.
Fincher diz
que o país tem um grave desequilíbrio de gênero. “Na verdade, há uma falta de
mulheres [na China]. Atualmente, segundo o governo, há 30 milhões de homens a
mais do que mulheres”, diz ela.
A Academia
Chinesa de Ciências Sociais projeta que a população do país pode diminuir dos
quase 1,4 bilhão atuais para 1,2 bilhão nos próximos 50 anos. Combinado com o
fato de que a população está envelhecendo, isso poderia gerar uma enorme
pressão sobre as finanças públicas e o sistema de bem-estar social.
Encontrando
a cara metade
Na Escola
Experimental Dinglan, as professoras passaram a ter direito folgas extras,
desde que isso não atrapalhe seu trabalho. Cerca de 40% das professoras da
escola se enquadram neste perfil. As professoras precisam requisitar a licença,
que faz parte de uma série de novas políticas que confere aos funcionários uma
“licença familiar” e uma “licença de felicidade” para aliviar o estresse
acumulado de suas funções.
“Normalmente,
nossos professores trabalham duro. Espero que eles aproveitem a folga para
relaxar, curtir a vida e passar tempo com suas famílias”, disse ao jornal local
Dushi Kuaibao o diretor da instituição, identificado apenas por seu sobrenome,
Zhao.
Mas não está
claro como a folga extra de namoro ajudará mulheres a encontrar um marido e ter
filhos. “Funcionárias mulheres trabalham principalmente em departamentos
internos e têm menos contato com o mundo exterior. Portanto, ao dar mais dias
de licença às mulheres, esperamos que tenham mais tempo e oportunidades para
entrar em contato com o sexo oposto”, disse Huang Lei, gerente de Recursos
Humanos da Hangzhou Songcheng Performance, que administra o parque temático, ao
site Zhejiang Online.
Ele contou
que a licença de namoro foi bem recebida. No entanto, Fincher acredita que a
iniciativa “não será muito eficaz”. “As mulheres têm cada vez menos pressa de
se casar ou ter filhos.”
Extraído
do site G1