Por Lázaro
Albuquerque Matos
Cinco horas
da amanhã ou da madrugada – queiram assim: o galo cantava. E amiudava,
levantando a cabeça e abrindo o bico sem piedade de quem ainda dormia por
perto.
O cantar do galo é o relógio biológico dele, que vai marcando continuamente as
horas para quem precisa madrugar ou despertar mais cedo para algum
quefazer.
Cantar fora de hora, o galo pode estar alertando que alguma moça está fugindo
com o namorado, por perto. Pais de moças namoradeiras, ouvidos finos para um
cantar de galo fora de hora!
O amiúde do galo no pé de laranja do quintal de minha casinha de palha e chão
batido, na Beira do Rio, em Duque Bacelar, vinha de um galo pescoço pelado da
estima de minha mãe. Nem se pensava em fazer nada com o bichinho. Ele cantava
pelo prazer de cantar de graça.
Com os meus 10 a 12 anos, eu ouvia o amiúde do estimado galo da minha mãe, e
despertava sem saber do quê o dito-cujo me alertava para a hora: rachar lenha
para as trempes não era, ainda, hora pra isso. Com o Paulo Ramos em férias, não
era época para minha mãe acender o fogo tão cedo para o café, antes de eu
seguir para as aulas.
E o galo amiudava, e amiudava sem parar. Impaciente, eu deixava a rede armada
nas forquilhas ou nos esteios da casa, e levantava para dar a noite como
encerrada e o dia como iniciado, de mal com o pescoço pelado do galinheiro de
minha mãe.
Crônica deriva do termo grego crono, que significa tempo. Daí o caráter de
temporalidade da crônica: narração de fatos e acontecimento do cotidiano de um
tempo: ontem e hoje. A crônica é uma escrita passageira, não merece ser
guardada como fatos históricos.
Escrevendo sobre carnaval, careca, careta e agora galo, dou-me ao prazer de
escrever de tudo um pouco, seja lá do que for: uma crônica leve e
passageira.
De alho e bugalho nada entendo. Não me peçam para escrever sobre isso. Não sei
fazer farofa literária. Misturo tudo e vira geleia de confusão para quem
saboreia minhas crônicas.
Uma pitada a mais de sal altera a pressão. Uma pitada a mais de açúcar altera a
glicemia. Não quero ver hipertensos e diabéticos pelo consumo de minhas
crônicas, lendo-as. Então, coloco nelas pitadas a mais de ironia e de humor: um
azeite do bem para quem está em dieta de leitura. Muitos estão.